(recitado) Payador, pampa e guitarra, guitarra, payador, pampa; três legendas de uma estampa, onde a retina se amarra. Payador, pampa e guitarra, flecos de pátria e poesia; alma, terra e melodia, sangue de um no corpo d'outro; botas de garrão de potro, da lonca da geografia! Payador, alma e garganta, emoção e sentimento; melodioso chamamento, que da terra se levanta; parecendo quando canta, com entonação baguala; que as aves perdem a fala, e o vento apaga os rumores; pois pra escutar payadores, até o silêncio se cala! Pampa - matambre esverdeado, nos costilhares do prata; que se agranda e se dilata, dos horizontes estaqueados; couro recém pelechado, que tem pátria nas raízes; aos teus bárbaros matizes, os tauras e campeadores; misturaram sangue as cores, pra desenhar três países! Guitarra - china delgada, que um dia chegou da Ibéria; para tornar-se gaudéria, da pampa venta rasgada; ao payador amasiada, nas soledades charruas; morando em quartos de lua, guitarra e lua são gêmeas; e Deus não fez duas fêmeas, mais linda do que essas duas! (recitado) Guitarra, o payador e o pampa; sempre afinados. São cordas dos alambrados, da vida, esse corredor! Paz, liberdade e amor, que nunca serão poscritos; porque nos ermos sólitos, onde o canto se desgarra; cada alma é uma guitarra, presa entre dois infinitos!